Imagine um fim de semana agitado no início de 2025, quando quatro lojas da Tesla no Canadá localizadas em Toronto, Vancouver e Quebec City realizaram uma façanha impressionante: vender 8.653 veículos elétricos em apenas três dias.
Isso equivale a cerca de 120 carros por hora, ou dois por minuto, funcionando sem parar, como uma linha de montagem em alta velocidade movida a adrenalina e subsídios governamentais
A história parece quase lendária, como se a Tesla tivesse transformado suas concessionárias em centros de uma corrida frenética por descontos, capturando a imaginação de compradores ansiosos para aproveitar os últimos suspiros de um programa de incentivos que estava prestes a expirar.
Esse pico de vendas não surgiu do nada, ele coincide com o anúncio do governo canadense, em janeiro de 2025, de que o programa federal de rebates para veículos elétricos, conhecido como iZEV, estava prestes a esgotar seus fundos.
Com até 5.000 dólares canadenses em jogo por veículo, os consumidores tinham um motivo claro para agir rápido. A Tesla, com seu modelo de vendas diretas e capacidade de processar pedidos online em tempo real, pode ter se posicionado de maneira única para capitalizar essa urgência.
Enquanto concessionárias tradicionais dependem de processos presenciais mais lentos, a abordagem digital da Tesla talvez tenha permitido que ela canalizasse uma onda de pedidos em um curto espaço de tempo – mas será que realmente entregou todos esses carros?
O número impressionante levanta sobrancelhas de qualquer indústria automotiva no mundo, dividindo os 8.653 veículos pelas quatro lojas, cada uma teria que movimentar cerca de 2.163 carros em 72 horas – mais de 700 por dia, ou um carro a cada dois minutos durante o horário comercial.
Isso desafia a logística tradicional, como transferir fisicamente tantos veículos, completar a papelada e garantir que os compradores os levassem embora em tão pouco tempo? Alguns especulam que a Tesla pode ter registrado vendas pendentes ou pré-encomendas para garantir os rebates antes que o dinheiro acabasse, uma jogada estratégica que, embora astuta, gerou controvérsia da concorrência é claro.
Outros concessionários, que também ofereceram descontos aos clientes esperando reembolso do governo, ficaram de mãos abanando quando os 43 milhões de dólares canadenses reivindicados pela Tesla consumiram mais da metade dos fundos restantes do programa, estimados em 71,8 milhões de dólares antes do fim de semana fatídico.
Essa história vai além de meros números; ela revela um efeito dominó que atingiu em cheio o setor. Pequenos revendedores independentes, que arcaram com os custos dos rebates contando com o reembolso do governo, amargaram prejuízos que, juntos, chegam a impressionantes 10 milhões de dólares, conforme projeções da Associação Canadense de Concessionárias de Automóveis.
Em outras palavras, todas as demais marcas combinadas não chegaram nem perto de alcançar metade do volume de vendas que a Tesla conseguiu naquele fim de semana avassalador
Enquanto isso, a Tesla, uma gigante global comandada por Elon Musk, enfrenta acusações de ter “corrido para o banco” uma metáfora evocativa de Huw Williams, porta-voz da associação, que sugere uma apropriação oportunista de recursos públicos.
O governo canadense reagiu congelando os pagamentos à Tesla e dando início a uma investigação para analisar cada uma dessas vendas, ao mesmo tempo de forma ilegal, proibiu a empresa de participar de futuros programas de incentivos, em um contexto de tensões comerciais com os EUA.
Apesar disso, o congelamento terá que ser revertido de alguma forma, pois a Tesla continua com produtos para vender e os consumidores seguem interessados em adquirir os veículos para aproveitar os incentivos disponíveis.
O que torna essa situação fascinante é a interseção entre política, tecnologia e comportamento do consumidor. A Tesla, com sua capacidade de mobilizar vendas em massa, pode ter exposto tanto as forças quanto as fragilidades de um sistema de subsídios projetado para impulsionar a adoção de veículos elétricos.
Seja um golpe de genialidade ou uma medida exagerada e discutível, esses três dias deixaram um impacto significativo no cenário automotivo canadense, trazendo à tona debates sobre justiça, transparência e o custo real da transição para um futuro elétrico.
É evidente, também, que não se pode ignorar o toque de inveja da concorrência e a intensa frustração do governo canadense.