O que está em jogo aqui é mais do que uma simples operação policial, trata-se de uma redefinição
A noite trouxe uma nova escalada na repressão a protestos estudantis nos Estados Unidos, com relatos de mais prisões de jovens manifestantes identificados como antiamericanos e apoiadores do Hamas.
O estopim parece ter sido a detenção de Mahmoud Khalil, um ex-estudante da Universidade Columbia e figura destacada nos atos pró-Palestina, cuja prisão no último sábado, 8 de março de 2025, desencadeou uma reação em cadeia. Autoridades americanas, sob a égide da administração Trump, intensificaram operações contra ativistas, sinalizando que o caso Khalil pode ser apenas a ponta de um iceberg maior.
Khalil, um residente permanente de origem argelina, foi detido por agentes do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândega) em seu apartamento em Nova York, acusado de liderar atividades alinhadas ao Hamas, grupo classificado como organização terrorista pelos EUA.
A ação, respaldadaa por ordens executivas de Trump contra o antissemitismo, gerou protestos imediatos e uma ordem judicial temporária bloqueando sua deportação. Agora, menos de 72 horas depois, fontes indicam que outros estudantes, muitos ligados a movimentos semelhantes em campi universitários, foram alvos de batidas noturnas. Embora números exatos não tenham sido confirmados até o momento, estamos em 11 de março de 2025, o padrão sugere uma ofensiva coordenada contra o antissemitismo.
Esse movimento reflete uma mudança de tom na política americana, desde os protestos pró-Palestina que tomaram universidades como Columbia em 2024, criticando a guerra em Gaza e o apoio dos EUA a Israel, o governo Trump adotou uma postura de tolerância zero.
O presidente, em postagens no Truth Social, celebrou a prisão de Khalil como “a primeira de muitas” e prometeu “encontrar, deter e deportar simpatizantes terroristas”. A versão oficial aponta que esses estudantes cruzaram a linha da liberdade de expressão, associando-os a grupos como o Hamas, mesmo com ativistas e entidades de direitos civis, como a ACLU, alertando para a ausência de provas sólidas e o perigo de transformar discordância em crime.
Afinal, eles estavam presentes nos protestos e acampamentos, que outra prova seria necessária?
O que está em jogo aqui é mais do que uma simples operação policial, trata-se de uma redefinição do que constitui ameaça à segurança nacional. Os alvos em sua maioria jovens, alguns imigrantes ou com vistos de estudante, são descritos como antiamericanos por sua rejeição pública à política externa dos EUA no Oriente Médio.
A noite de prisões expõe uma América dividida? A resposta é não, mas de um lado, a administração Trump capitaliza o medo do terrorismo para consolidar apoio doméstico, especialmente após sua reeleição em 2024, quando prometeu “limpar” as universidades de influências consideradas subversivas.
De outro, crescem as vozes que veem nisso um ataque à Primeira Emenda, que protege a liberdade de expressão, e um precedente perigoso para imigrantes legais. Em Nova York, na segunda-feira, 10 de março, centenas marcharam exigindo a libertação de Khalil, com cartazes como “Sem prisioneiros políticos nos EUA”.
É quase certo que novos protestos eclodam hoje, talvez amanhã, intensificando o conflito, mas o imigrante parece ignorar que não está manifestando em sua terra natal, e sim em um lugar onde respaldo ao terrorismo não encontra espaço.
O impacto vai além das fronteiras americanas, a comunidade internacional assiste enquanto os EUA, historicamente um farol de liberdades individuais, testa os limites entre segurança e repressão. Para os estudantes presos, o custo é imediato: interrupção de estudos, incerteza legal e, para alguns, a ameaça de expulsão do país.
Para o governo, o desafio é provar que essas ações têm fundamento, algo que, até agora, permanece vago, com o Departamento de Segurança Interna limitando-se a declarações genéricas sobre “atividades alinhadas ao Hamas”.
Essa onda de prisões pode ser um divisor de águas, se o Judiciário continuar a intervir, como no caso Khalil, o plano de deportações em massa pode ser freado em primeiro momento. Caso contrário, os campi universitários, outrora berços de debate, correm o risco de se tornar campos de vigilância.
Enquanto isso, os estudantes detidos tornam-se símbolos extremistas de resistência; para outros, de uma ameaça a ser neutralizada. A noite passada foi apenas o começo de um embate que promete reverberar por meses, quer ficar nos EUA? Não apoie atos terroristas.