‘Em breve, declararei Emergência Nacional de Eletricidade na área ameaçada’, diz presidente dos EUA após Ontário aumentar tarifas
Na manhã de 11 de março de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma medida que jogou lenha na fogueira das tensões comerciais com o Canadá: um aumento das tarifas sobre aço e alumínio importados do país vizinho, elevando-as de 25% para 50%.
A decisão, divulgada em um post no Truth Social, veio como retaliação direta à imposição de uma sobretaxa de 25% sobre as exportações de eletricidade da província de Ontário para os estados americanos de Nova York, Michigan e Minnesota. O que começou como uma disputa econômica regional rapidamente se transformou em um confronto de proporções nacionais, com Trump prometendo fazer o Canadá “pagar um preço financeiro histórico” por sua ousadia.
A origem desse embate está na política de “América Primeiro” de Trump, que desde seu retorno à Casa Branca em janeiro de 2025 tem usado tarifas como arma para pressionar parceiros comerciais. O estopim foi a decisão do premier de Ontário, Doug Ford, de taxar a energia elétrica exportada, uma medida retaliatória aos 25% de tarifas gerais que Trump já havia imposto sobre bens canadenses no início de fevereiro.
Ontário, que abastece cerca de 1,5 milhão de lares e empresas americanas com eletricidade, viu na sobretaxa uma forma de flexionar seus músculos econômicos. Ford chegou a ameaçar cortar completamente o fornecimento caso as tensões escalassem, um blefe que Trump respondeu dobrando a aposta no aço e alumínio, setores vitais para o Canadá, que é o maior fornecedor desses materiais aos EUA.
A perspectiva aqui não é apenas a de uma guerra de números, mas de uma batalha de narrativas. Trump, ao justificar o aumento, chamou o Canadá de “uma das nações que mais impõem tarifas no mundo”, uma afirmação que ignora dados da Organização Mundial do Comércio mostrando que a tarifa média canadense (3,8%) é quase idêntica à americana (3,3%).
Ele também ameaçou declarar uma “emergência nacional de eletricidade” nos estados afetados, um movimento que poderia abrir caminho para ações ainda mais drásticas. Do outro lado, Ford acusou Trump de provocar uma “recessão Trump” e defendeu sua sobretaxa como proteção aos interesses de Ontário, alertando que os EUA dependem mais do Canadá do que o inverso, especialmente no caso do alumínio, onde os americanos produzem apenas 16% do que consomem.
O impacto imediato foi sentido nos mercados, a Dow Jones caiu quase 600 pontos na manhã do anúncio, refletindo o medo de uma guerra comercial prolongada que eleve custos para empresas americanas dependentes de matérias-primas canadenses.
No Canadá, o setor automotivo, que usa esse aço e alumínio em larga escala, teme perder competitividade, enquanto consumidores nos estados fronteiriços enfrentam a possibilidade de contas de luz mais altas.
Curiosamente, a escalada durou pouco: horas depois, Ford suspendeu a sobretaxa após negociações com o Secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, e Trump recuou do aumento para 50%, mantendo as tarifas em 25% a partir da meia-noite de 12 de março. Ambos concordaram em se reunir em Washington na quinta-feira para discutir o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA).
Esse vaivém revela mais do que uma simples troca de golpes econômicos. Para Trump, é uma demonstração de força que reforça sua imagem de negociador implacável, usando tarifas como alavanca para dobrar adversários, mesmo que o “adversário” seja um aliado histórico.
Para Ontário e o Canadá, é uma tentativa de afirmar autonomia diante de um vizinho que frequentemente dita as regras. O recuo mútuo, porém, sugere que nenhum dos lados está pronto para um rompimento total.
A verdadeira questão agora é se essa trégua temporária pavimentará o caminho para um entendimento ou apenas adiará o próximo round. Enquanto isso, os trabalhadores de ambos os lados da fronteira dos metalúrgicos canadenses aos consumidores americanos seguem reféns de um jogo de poder que mistura economia, política e um toque de bravata, que faz parte do show.