Em uma entrevista televisionada nesta quinta-feira, 13 de março de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reafirmou sua determinação em implementar tarifas comerciais recíprocas abrangentes contra todos os parceiros comerciais do país, com a data marcada para 2 de abril.
A medida, que ele descreveu como inegociável, visa equilibrar o que Trump considera um histórico de desvantagens econômicas impostas aos EUA por nações que aplicam barreiras tarifárias e não tarifárias mais severas contra produtos americanos.
Entre os alvos de suas críticas, o Canadá recebeu destaque especial, com o presidente apontando o vizinho do norte como exemplo de um parceiro que, segundo ele, explora a relação comercial bilateral em detrimento dos interesses americanos.
Trump justificou sua posição ao alegar que o Canadá mantém políticas protecionistas que dificultam o acesso de produtos agrícolas e financeiros dos EUA, enquanto desfruta de um fluxo quase irrestrito de suas exportações para o mercado americano.
“O Canadá cobra tarifas altíssimas sobre nossos laticínios e madeira, mas quer que deixemos tudo deles entrar de graça. Isso acaba em 2 de abril”, declarou ele, sinalizando que as tarifas recíprocas serão calibradas para espelhar as taxas impostas por outros países aos bens americanos.
A referência ao Canadá não é novidade, desde o início de seu segundo mandato, Trump tem oscilado entre ameaças de anexação e promessas de retaliação econômica, alegando que o país só se sustenta economicamente devido à proximidade com os Estados Unidos e aos 200 milhões de reais anuais que os EUA gastam para subsidiá-lo.
“Nós não precisamos do seu status, da sua energia nem da sua madeira, nada disso. Fazemos essa relação comercial porque queremos ajudar, mas chega um ponto em que não é mais viável. Não precisamos de nada do que eles têm.”
A política de tarifas recíprocas, que Trump chama de “justiça comercial”, reflete uma visão de que os Estados Unidos têm sido generosos demais em acordos internacionais. Ele citou o exemplo do setor automotivo, onde ajustes recentes pouparam temporariamente Canadá e México de tarifas de 25%, mas alertou que essa exceção termina em abril, quando “tudo será igualado”.
O plano, anunciado inicialmente em fevereiro via memorando presidencial, ganhou contornos mais definidos com a promessa de atingir indiscriminadamente todos os parceiros, independentemente de laços históricos ou acordos como o USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá).
Para o Canadá, isso pode significar tarifas retaliatórias sobre exportações cruciais como energia e aço, que representam cerca de 75% do comércio com os EUA, segundo dados do Departamento de Comércio americano.
A ênfase no Canadá durante a entrevista parece estratégica, Trump voltou a brincar com a ideia de que o país poderia “se tornar o 51º estado” para evitar as tarifas, uma provocação que irritou lideranças em Ottawa.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, já rebateu tais comentários, acusando Trump de usar o comércio como arma para desestabilizar a economia canadense. Por trás da retórica, há um cálculo político: ao mirar um aliado próximo, Trump reforça sua imagem de negociador linha-dura, ao mesmo tempo em que testa a resiliência de laços econômicos que movimentam mais de US$ 2 bilhões por dia entre os dois países.
A inflexibilidade anunciada na entrevista sugere que os próximos 20 dias até 2 de abril serão de intensa pressão diplomática. Para o Canadá principalmente, mas também parae outros parceiros, o desafio será encontrar concessões que satisfaçam as demandas de Trump sem comprometer suas próprias economias.
E o Brasil, que mal mantém contato com os EUA, se é que algum dia manteve após Lula rotular Trump de fascista, como fica nessa equação?
Para o país sul-americano, o primeiro passo seria estabelecer uma comunicação que, até agora, não existe de fato. Além disso, não se pode ignorar os entraves gerados pelo judiciário brasileiro em relação aos Estados Unidos, o que torna a tarefa muito mais complexa do que aparenta ser à primeira vista.
Enquanto isso, o presidente americano parece apostar que a ameaça de tarifas generalizadas forçará uma renegociação global em seus termos, uma jogada arriscada que pode tanto redefinir o comércio internacional quanto desencadear uma guerra tarifária de proporções imprevisíveis, porém, nessa guerra, o lado mais fraco vai sobre amargamente, e um desses lados, é o Brasil que tem uma economia frágil.