Dezoito brasileiros, conectados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das mais notórias facções criminosas do Brasil, enfrentam agora acusações nos Estados Unidos por seu envolvimento em uma operação transnacional de tráfico de armas e fentanil.
Esse caso, revelado em 20 de março de 2025, destaca a expansão das atividades do crime organizado brasileiro para além das fronteiras nacionais, alcançando o território americano e expondo uma preocupante intersecção entre redes criminosas e o mercado ilegal global.
A investigação, batizada de “Take Back America”, foi conduzida pelo Departamento de Justiça dos EUA e desmantelou uma rede que operava principalmente entre os estados da Flórida, Carolina do Sul e Massachusetts.
Os indiciados, em sua maioria imigrantes em situação irregular, são acusados de movimentar pelo menos 110 armas ilegais, além de munições e quantidades significativas de fentanil, uma droga sintética até 50 vezes mais potente que a heroína, amplamente associada à crise de overdoses que assola os EUA.
A procuradora Leah Foley, responsável pelo caso em Massachusetts, descreveu os envolvidos como parte de um “sindicato do crime ilegal” com raízes transnacionais, enfatizando o impacto direto dessas atividades em comunidades locais.
O que torna essa operação particularmente intrigante é o contraste entre os perfis dos acusados e a sofisticação do esquema. Enquanto o PCC é conhecido no Brasil por dominar o tráfico de drogas e manter uma estrutura hierárquica rígida dentro e fora dos presídios, sua projeção nos EUA parece depender de indivíduos que, em muitos casos, operavam à margem da legalidade migratória.
Esses brasileiros, com idades entre 21 e 50 anos, estavam espalhados por diversas cidades de Massachusetts, como Boston e Framingham, e alguns também tinham ligações com gangues menores, como a “Tropa de Sete” e a “Trem Bala”. Essa colaboração sugere uma adaptação estratégica do PCC, que, longe de replicar seu modelo brasileiro, busca parcerias locais para ampliar seu alcance.

O fentanil, uma das cargas mais alarmantes nesse caso, reflete uma tendência crescente no crime organizado, a diversificação para substâncias sintéticas de alto lucro e fácil transporte. Diferente do tráfico tradicional de cocaína ou maconha, que exige rotas logísticas complexas a partir da América Latina, o fentanil pode ser produzido em laboratórios clandestinos e distribuído em pequenas quantidades com efeitos devastadores.
Nos EUA, onde mais de 70 mil mortes por overdose foram registradas em 2021, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a presença dessa droga no esquema do PCC reforça a gravidade da ameaça.
Do ponto de vista brasileiro, o caso levanta questões sobre a capacidade do PCC de se reinventar e projetar influência internacionalmente. Fundada em 1993 nos presídios de São Paulo, a facção evoluiu de um grupo de autodefesa carcerária para uma organização com tentáculos em diversos países, incluindo Paraguai, Bolívia e, agora, os Estados Unidos.
A operação “Take Back America” não apenas expõe essa expansão, mas também coloca em xeque a eficácia das políticas de segurança pública e cooperação internacional para conter o avanço do crime organizado.
Para os EUA, o indiciamento desses 18 brasileiros é um alerta sobre a vulnerabilidade de suas fronteiras ao crime transnacional. Patricia Hyde, da unidade de Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE), destacou que os acusados “não apenas eram membros de organizações criminosas perigosas, mas também estavam envolvidos no tráfico de quantidades significativas de armas e fentanil”.
As penas previstas, que podem chegar a 15 anos de prisão por posse ilegal de armas por estrangeiros sem documentação, além de multas de até US$ 250 mil, sinalizam uma resposta dura das autoridades americanas.
Esse episódio também acende um debate mais amplo: até que ponto as diásporas criminosas, impulsionadas por fluxos migratórios e desigualdades globais, estão moldando novas dinâmicas de segurança? À medida que o PCC se fortalece como um participante no cenário internacional do crime, o caso dos 18 indiciados nos Estados Unidos destaca que as fronteiras, sejam físicas ou legais, estão se tornando obstáculos cada vez menos eficazes contra a ambição do crime organizado. A situação do Brasil, somada a outros problemas já em curso nos EUA, pode intensificar ainda mais esse quadro.