O governo chinês interrompeu as negociações para a venda do TikTok aos Estados Unidos, uma decisão que ganhou força após o presidente Donald Trump anunciar, em 2 de abril de 2025, um pacote de tarifas amplas que atingem diretamente a China.
A medida, que elevou as taxas sobre importações chinesas, foi vista por Pequim como uma pressão inaceitável, levando ao colapso de um acordo que estava próximo de ser finalizado.
O plano previa que a ByteDance, empresa dona do TikTok, cedesse o controle da plataforma nos EUA a investidores americanos, mantendo uma participação minoritária inferior a 20%.
A reviravolta ocorreu na quinta-feira, 3 de abril, apenas um dia após o anúncio das tarifas, quando representantes da ByteDance comunicaram à Casa Branca que o governo chinês não aprovaria a transação sem antes discutir as políticas comerciais de Trump, segundo uma fonte próxima às negociações revelou à Associated Press.
A exigência de Pequim por conversas mais amplas sobre comércio expôs a fragilidade do processo, que vinha sendo conduzido há meses sob a liderança do vice-presidente americano, JD Vance, e contava com a participação de fundos de investimento e empresas de tecnologia dos EUA.
Trump, por sua vez, reagiu à paralisação chinesa com uma nova manobra, na sexta-feira, 4 de abril, ele assinou uma ordem executiva adiando em 75 dias o prazo para que a ByteDance encontre um comprador não chinês, evitando, por ora, a proibição do TikTok no país.
“Estamos muito perto de um acordo, mas a China mudou de posição por causa das tarifas”, declarou o presidente a jornalistas a bordo do Air Force One, sugerindo que uma redução nas taxas poderia destravar as negociações. A declaração, porém, foi recebida com ceticismo por analistas, que apontam a relutância histórica de Pequim em ceder a pressões externas sobre seus ativos estratégicos.
A disputa em torno do TikTok, que possui cerca de 170 milhões de usuários nos EUA, vai além de uma simples transação comercial. Ela se insere em um contexto de tensões crescentes entre Washington e Pequim, agravadas por preocupações americanas com a segurança nacional.
Uma lei aprovada em 2024, com apoio bipartidário no Congresso e validada pela Suprema Corte, determinou que a ByteDance deveria vender o aplicativo até 19 de janeiro de 2025, sob risco de banimento, devido a temores de que dados de usuários americanos pudessem ser acessados pelo governo chinês. Trump, que inicialmente defendeu a proibição, mudou de tom ao assumir o cargo em janeiro, buscando um acordo que mantivesse o aplicativo ativo sob controle americano.
A interrupção chinesa, no entanto, lança dúvidas sobre a viabilidade dessa solução, um porta-voz da ByteDance afirmou, em comunicado no sábado, 5 de abril, que as conversas com o governo dos EUA continuam, mas “não há acordo firmado, e questões cruciais ainda precisam ser resolvidas”.
Ele reforçou que qualquer decisão final dependerá da aprovação das autoridades chinesas, em conformidade com as leis locais. Enquanto isso, a escalada tarifária já provoca efeitos em cadeia, com a China retaliando na sexta-feira ao impor taxas de 34% sobre importações americanas, conforme noticiado pelo The Washington Post.
O impasse expõe os limites da estratégia de Trump, que usa tarifas como ferramenta de negociação, mas também os desafios de Pequim em abrir mão de uma plataforma avaliada em dezenas de bilhões de dólares.
Para os americanos, o destino do TikTok segue incerto, enquanto o relógio avança rumo ao novo prazo de 18 de junho de 2025. A Casa Branca insiste em sua intenção de “salvar” o aplicativo, mas o desenrolar dessa batalha comercial pode redefinir não apenas o futuro da rede social, mas também o equilíbrio de poder econômico entre as duas maiores potências globais.