Em um movimento que pode marcar um ponto de virada nas relações comerciais transatlânticas, a União Europeia apresentou ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma proposta ousada: eliminar completamente as tarifas sobre produtos industriais em trocas entre os dois blocos.
A oferta, anunciada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em 7 de abril de 2025, durante uma visita ao Uzbequistão, surge como uma tentativa de evitar uma guerra comercial iminente, desencadeada pelas políticas tarifárias agressivas de Trump. No entanto, a líder europeia deixou claro que o bloco está pronto para retaliar caso a iniciativa não seja aceita, sinalizando uma postura firme em meio às negociações.
D e acordo com a Euronews e a CNN, a proposta de tarifas zero abrange uma vasta gama de bens industriais, desde máquinas e equipamentos até automóveis, setores cruciais tanto para a economia americana quanto para a europeia.
Von der Leyen destacou que a medida já foi implementada com sucesso em acordos com outros parceiros comerciais, como o Japão e o Canadá, e poderia trazer benefícios mútuos significativos.
“A Europa está sempre aberta a um bom acordo”, afirmou ela em entrevista coletiva, conforme reportado pela Euronews, sublinhando que a oferta permanece sobre a mesa como um gesto de boa vontade.
A ideia é reduzir as tensões que escalaram desde que Trump anunciou, no início de abril, taxas de 20% sobre importações da UE, com percentuais ainda mais altos para aço, alumínio e automóveis, previstas para entrar em vigor em 9 de abril.
Por trás da proposta, há um cálculo estratégico, a UE busca proteger seu mercado interno de um possível desvio de comércio, no qual produtos asiáticos, especialmente chineses, poderiam inundar a Europa caso sejam barrados nos EUA pelas tarifas americanas.
Para isso, Von der Leyen anunciou a criação de uma força-tarefa de vigilância de importações, que monitorará fluxos comerciais e identificará aumentos repentinos que exijam ação. “Estamos preparados para nos defender dos efeitos colaterais dessas políticas”, declarou, sugerindo que o bloco não hesitará em adotar medidas de proteção se necessário.
A resposta da Casa Branca ainda é incerta, Trump, que assinou uma ordem executiva no dia 2 de abril instituindo o que chamou de “Dia da Libertação” econômico, defende que suas tarifas visam corrigir desequilíbrios comerciais e impulsionar a indústria americana.
Ele justificou as taxas alegando que a UE impõe barreiras significativas aos produtos dos EUA, uma afirmação contestada por Bruxelas. Dados da Comissão Europeia indicam que a tarifa média aplicada a bens americanos é de apenas 1%, considerando o comércio real, enquanto estimativas da Organização Mundial do Comércio (OMC) apontam para 4,8%, números bem abaixo dos 39% citados por Trump em seu discurso.
Caso as negociações fracassem, a UE já prepara um arsenal de contramedidas, autoridades do bloco indicaram que produtos americanos, como motocicletas, uísque e itens agrícolas, poderiam ser alvos de taxas retaliatórias, uma tática usada com sucesso em 2018, durante o primeiro mandato de Trump, quando tarifas sobre aço e alumínio geraram uma resposta europeia de 2,8 bilhões de euros em importações americanas taxadas.
“Não queremos escalar o conflito, mas defenderemos nossos interesses”, afirmou o comissário de Comércio, Maros Sefcovic, em Luxemburgo, onde ministros da UE se reuniram para alinhar estratégias.
O desfecho dessa proposta histórica pode redefinir o comércio global, para a Europa, é uma chance de preservar sua economia integrada e evitar os custos de uma disputa prolongada. Para os EUA, representa uma oportunidade de consolidar ganhos industriais sem alienar um de seus maiores parceiros comerciais. Enquanto o prazo das tarifas americanas se aproxima, o mundo observa se prevalecerá a cooperação ou se as contramedidas darão o tom de uma nova era de protecionismo.