O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou ontem (17) que possui evidências de que a China está fornecendo artilharia e pólvora à Rússia, intensificando as acusações contra Pequim por seu suposto envolvimento na guerra que já dura mais de três anos.
Durante uma coletiva de imprensa em Kiev, Zelensky afirmou que informações obtidas pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) e por agências de inteligência indicam a participação de representantes chineses na produção de armas em território russo.
A declaração, que marca a primeira acusação oficial de Kiev sobre o fornecimento direto de armamento por Pequim, promete agravar as relações já tensas entre Ucrânia e China, enquanto levanta questões sobre a neutralidade declarada do governo chinês no conflito.
As Acusações e Suas Implicações
Zelensky disse que as evidências indicam que a China enviou pólvora e munições de artilharia, com a possibilidade de empresas chinesas estarem diretamente envolvidas na fabricação de equipamentos militares em território russo.
“Acreditamos que representantes chineses estão engajados na produção de certas armas em território russo”, declarou o presidente, prometendo divulgar detalhes adicionais na semana seguinte.
Ele não especificou se as armas incluem sistemas completos de artilharia ou apenas componentes, como projéteis, mas a gravidade da acusação sugere uma escalada significativa no papel da China no conflito.
A denúncia ocorre dias após a captura de dois cidadãos chineses lutando ao lado das forças russas na região de Donetsk, um evento que já havia gerado atritos diplomáticos.
A China, que mantém uma postura pública de neutralidade desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, negou veementemente as alegações.
O porta-voz de Relações Exteriores da China, Lin Jian, afirmou que Pequim “exige que seus cidadãos evitem qualquer envolvimento em conflitos armados” e está verificando os dados e informações com a Ucrânia, informado pela BBC.
A parceria estratégica “sem limites”, que foi anunciada pela China e Rússia semanas antes da invasão tem sido alvo de críticas, tudo aponta para o apoio econômico e diplomático de Pequim a Moscou como um fator chave para a sustentação do esforço de guerra russo.
As acusações de Zelensky surgem em um momento crítico para a Ucrânia, que enfrenta dificuldades no front devido à escassez de munições e ao declínio do apoio militar ocidental. Com os Estados Unidos sob a administração de Donald Trump adotando uma postura mais conciliatória em relação à Rússia, Kiev busca chamar a atenção da comunidade internacional para a guerra.
A exposição do suposto envolvimento chinês pode ser uma tentativa de pressionar os EUA, que veem a China como um adversário estratégico, a reavaliarem seu apoio à Ucrânia.
“Estamos usando essas informações para garantir que o mundo preste atenção ao que está acontecendo”, disse Zelensky, conforme citado pelo The Economic Times. A estratégia, no entanto, não é isenta de riscos, especialmente após críticas à exibição pública de prisioneiros chineses, uma prática que viola normas do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Outro fator que contextualiza as denúncias é a presença confirmada de outros aliados de Moscou no conflito, a Ucrânia já documentou o fornecimento de drones iranianos e munições norte-coreanas à Rússia, com Pyongyang enviando até tropas, segundo autoridades ucranianas. A adição da China a essa lista, ainda que em escala incerta, reforça a narrativa de que a Rússia depende de parceiros externos para manter sua ofensiva, especialmente em uma guerra de atrito que exige vastos recursos.
A denúncia de Zelensky tem o potencial de redefinir a dinâmica do conflito e as relações internacionais. Para a Ucrânia, expor o envolvimento chinês pode fortalecer sua posição em negociações de paz mediadas por terceiros, como as conversas em curso em Paris com autoridades europeias e americanas.
No entanto, também pode alienar Pequim, que até recentemente era visto por Kiev como um possível mediador devido à sua influência sobre Moscou. Em julho de 2024, o líder chinês Xi Jinping havia garantido a Zelensky que a China não forneceria armas à Rússia, uma promessa agora questionada publicamente.
No cenário global, as acusações intensificam as tensões entre China e o Ocidente, especialmente os EUA, que já classificaram Pequim como um “grande facilitador” da guerra russa, devido ao fornecimento de bens de dupla utilização, como microeletrônicos e equipamentos de navegação, conforme declaração do Departamento de Estado americano à Newsweek. Caso as evidências prometidas por Zelensky sejam confirmadas, sanções adicionais contra empresas chinesas podem ser impostas, aprofundando a guerra comercial entre Washington e Pequim.
A acusação de Zelensky coloca a China em uma posição delicada, forçando-a a equilibrar sua parceria com a Rússia e sua imagem de neutralidade no cenário global. Para a Ucrânia, a estratégia de tornar públicas essas alegações é um movimento calculado para reacender o interesse ocidental em sua luta, mas também expõe os limites de sua influência diplomática diante de grandes potências.
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