Investimentos de Qatar e China em universidades americanas levantam debate sobre influência e tensões no campus
Instituições de ensino superior nos EUA obtiveram bilhões de dólares em doações e acordos com nações como Qatar e China, gerando inquietações sobre o impacto desses fundos na autonomia acadêmica e no ambiente social dos campi universitários.
Críticos apontam que esses investimentos podem estar ligados ao aumento de incidentes de antissemitismo, protestos pró-Palestina e à promoção de ideologias progressistas, criando um ambiente hostil para estudantes judeus. Embora as instituições neguem que tais fundos interfiram em suas políticas, o tema tem gerado intenso debate no Congresso dos EUA e na sociedade.
Entre 2001 e 2021, o Qatar destinou pelo menos 4,7 bilhões de dólares a universidades americanas, com destaque para instituições como Carnegie Mellon e Cornell, segundo um relatório da National Association of Scholars.
Esses valores, muitas vezes não declarados ao Departamento de Educação, como exigido por lei, financiam pesquisas, programas acadêmicos e parcerias, como o campus da Texas A&M no Qatar.
A China tem expandido sua influência através de projetos como os Institutos, que divulgam a cultura chinesa, mas são alvo de críticas por restringir a liberdade acadêmica. Embora os objetivos declarados sejam educacionais, há quem veja nesses investimentos uma estratégia para moldar narrativas e influenciar o discurso político nos campi.
O aumento de protestos pró-Palestina, especialmente após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, intensificou as preocupações. Grupos como Students for Justice in Palestine (SJP) e Jewish Voice for Peace (JVP) têm realizado manifestações que, por vezes, vão além do discurso político e derivam para comportamentos antissemitas. Quem estaria financiando ou apoiando essas organizações?
Incidentes como a projeção de frases como “Do rio ao mar, Palestina será livre” em prédios universitários, interpretada por estudantes judeus como um chamado à destruição de Israel, geraram medo e denúncias de intimidação.
Um relatório do Comitê de Educação e Trabalho da Câmara dos EUA, de outubro de 2024, acusou administrações universitárias de negligência na proteção de estudantes judeus, citando “acampamentos ilegais” e “capitulação a grupos simpatizantes de terroristas”.
Organizações como o Instituto para o Estudo do Antissemitismo Global e Política (ISGAP) sugerem que doações do Qatar, em particular, podem fortalecer grupos estudantis que promovem retórica anti-Israel, embora sem evidências diretas de financiamento a essas organizações.
O Qatar, que mantém laços com o Hamas e financia projetos no Ocidente, é acusado de usar sua riqueza para ampliar sua influência cultural e política. Já a China, segundo o The New York Times, viu um aumento de retórica antissemita em suas mídias estatais e plataformas online desde 2023, o que alimenta temores de que sua influência nos campi americanos possa ecoar narrativas semelhantes.
Por outro lado, defensores dos protestos, sim, eles existem, argumentam que as acusações de antissemitismo são exageradas e usadas para silenciar críticas legítimas às ações de Israel. Estudantes como Jamil Mohamad, da Universidade de Columbia, citado pelo The Guardian, afirmam que o desconforto de alguns alunos judeus reflete mais uma resistência a debates sobre o conflito em Gaza do que ameaças reais, mas estudantes judeus relatam perseguições.
Organizações como a ACLU reforçam que a retórica pró-Palestina, mesmo quando inflamada, é protegida pela Primeira Emenda, e que investigações amplas contra grupos estudantis carecem de base legal sólida.
O Congresso americano respondeu com medidas como a Lei DETERRENT, aprovada em dezembro de 2023, que reduz o limite para declaração de doações estrangeiras de 250 mil para 50 mil dólares e elimina o piso para países como China e Qatar.
A legislação busca maior transparência, mas críticos, como a American Council on Education, alertam que ela pode prejudicar colaborações acadêmicas internacionais.
Universidades como Harvard afirmam, por meio de declarações como a da ex-presidente Claudine Gay em audiência no Congresso, que mantêm políticas estritas para impedir a influência de doadores. No entanto, qual é a eficácia dessas medidas se, apesar de tudo o que ocorreu, nenhuma ação concreta foi tomada para resolver os problemas, e as doações bilionárias continuam a moldar as direções institucionais?
O debate revela um conflito mais amplo: como conciliar a liberdade acadêmica, a segurança dos alunos e a influência de potências estrangeiras em um contexto de crescente polarização global? Para muitos, a resposta está em maior transparência e diálogo, mas o caminho para conciliar esses valores permanece incerto.
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