O Ministério Federal do Interior da Alemanha está avaliando a introdução de aulas de defesa civil nas escolas, uma proposta que ganhou destaque em meio às crescentes preocupações com a segurança na Europa.
A iniciativa, noticiada pela imprensa local hoje (6), busca preparar os estudantes para lidar com crises como desastres naturais ou até mesmo conflitos armados, diante de um cenário continental marcado por instabilidade. A ideia surge em um momento em que a invasão russa da Ucrânia, iniciada há mais de três anos, continua a gerar temores de escalada, enquanto tensões geopolíticas desafiam a sensação de estabilidade no bloco europeu.
A sugestão de incluir esse tipo de formação no currículo escolar parte de uma percepção clara entre as autoridades: a necessidade de equipar a população jovem com habilidades práticas para enfrentar situações extremas.
“É fundamental que os estudantes, por serem especialmente vulneráveis, saibam como agir em emergências”, declarou o deputado Roderich Kiesewetter, da União Democrata-Cristã (CDU), ao jornal Handelsblatt
Ele integra a comissão de supervisão dos serviços de inteligência do Parlamento alemão e defende que a medida seria um passo prudente para o futuro, inspirando-se em modelos como o da Finlândia, onde a defesa civil é parte integrante da educação.
A proposta não é isolada, ela acompanha um movimento mais amplo na Europa, impulsionado pela Comissão Europeia, que no início de 2025 apresentou uma estratégia para fortalecer a preparação civil em todo o bloco. O Ministério do Interior alemão endossou a ideia, destacando que sensibilizar os jovens para os riscos atuais é uma prioridade.
A mudança no ambiente de segurança, agravada por ameaças como ciberataques, desastres climáticos e a proximidade de conflitos, levou Berlim a reconsiderar como a sociedade pode se organizar para tempos incertos. Países vizinhos, como Polônia e Estônia, já implementaram programas que vão além, incluindo aulas de tiro para adolescentes a partir dos 14 anos, embora tais práticas levantem debates sobre sua conformidade com normas internacionais.
Na Alemanha, o foco seria menos militar e mais voltado à autoproteção e à resiliência coletiva, especialistas sugerem que o currículo poderia abordar desde procedimentos em caso de evacuação até noções básicas de primeiros socorros, adaptados à realidade escolar.
“Trata-se de criar uma geração consciente e capaz de responder a desafios imprevisíveis”, afirmou uma fonte do ministério ao jornal Süddeutsche Zeitung, sob condição de anonimato. A proposta, porém, ainda enfrenta obstáculos, como a falta de professores qualificados e a necessidade de consenso entre os estados, que detêm autonomia sobre o sistema educacional.
A discussão é um debate antigo no país sobre o papel da educação em tempos de crise, durante a Guerra Fria, a Alemanha Ocidental manteve programas de defesa civil robustos, mas eles foram gradualmente abandonados após a reunificação, em 1990.
Agora, com a percepção de risco em alta, a iniciativa do Ministério do Interior busca resgatar essa mentalidade preventiva, ajustando-a ao contexto do século XXI. Críticos, no entanto, questionam se o plano pode gerar ansiedade entre os alunos ou desviar recursos de outras prioridades educacionais, como a formação acadêmica tradicional.
Enquanto o governo alemão avalia os próximos passos, a proposta já provoca reações na sociedade, pais e educadores se dividem entre os que veem a medida como uma resposta necessária aos tempos atuais e os que temem uma militarização indireta do ensino.
O que parece certo é que a Europa, e a Alemanha em particular, estão diante de um momento de redefinição, no qual preparar os mais jovens para o inesperado pode se tornar parte essencial de sua formação. A decisão final, que deve passar por consultas no Parlamento e nos estados, será um teste crucial para o equilíbrio entre segurança e normalidade na vida escolar.