Tarifas de Trump Sacodem a Rússia e Colocam em Xeque o Projeto de Poder de Putin
As políticas comerciais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão lançando uma sombra inesperada sobre a Rússia, ameaçando empurrar sua economia para um precipício que poucos em Moscou anteciparam.
Longe de oferecer alívio às pressões enfrentadas pelo país, como alguns analistas especulavam devido à relação historicamente amistosa entre Trump e Vladimir Putin, as tarifas anunciadas em abril de 2025 estão agravando uma situação já delicada.
A queda vertiginosa nos preços do petróleo, desencadeada por um efeito cascata das medidas americanas, emerge como um golpe devastador para uma nação que depende fortemente das exportações energéticas, corroendo as bases do ambicioso plano de Putin para reerguer a Rússia como potência global.
A mais recente onda de tarifas, que inclui taxas de até 145% sobre produtos chineses e uma pausa de 90 dias para 75 outros países, não atingiu a Rússia diretamente. Ainda assim, o impacto indireto foi imediato e severo.
O petróleo Brent, vital para as finanças russas, caiu de 75 dólares para cerca de 63 dólares por barril em uma semana, conforme dados da Reuters de 9 de abril de 2025, com previsões pessimistas apontando para uma possível queda até 45 dólares caso a incerteza global persista.
Segundo o The Moscow Times, em artigo publicado em 7 de abril de 2025, essa redução pode custar à Rússia cerca de 40 bilhões de dólares em receitas anuais, um valor que o país, já sufocado por sanções ocidentais desde 2022, dificilmente consegue absorver sem cortes drásticos.
A economia russa, que extrai cerca de 40% de suas exportações do setor de óleo e gás, conforme relatório do Ministério das Finanças de fevereiro de 2025, encontra-se em um momento de vulnerabilidade extrema. A inflação, que saltou para 10% no início do ano apesar de uma taxa de juros de 21% imposta pelo Banco Central Russo, e a desvalorização do rublo amplificam a crise.
“O que parecia ser uma janela de oportunidade com Trump virou um pesadelo econômico”, escreveu o economista Sergei Guriev em um comentário para o The Moscow Times na mesma data, destacando como as expectativas de uma détente com Washington se desfizeram diante da realidade dos mercados.
Putin, que há anos cultiva a imagem de um líder capaz de navegar por crises e restaurar o orgulho nacional, vê agora seus planos escaparem por entre os dedos muito rápido. A guerra na Ucrânia, que já consome recursos expressivos, pode enfrentar cortes inevitáveis se o petróleo continuar em queda livre.
Analistas do Institute of International Finance estimam que cada dólar perdido no preço do barril subtrai 2,7 bilhões de dólares das reservas russas anualmente, uma matemática que coloca em risco tanto o esforço militar quanto os programas sociais que sustentam a popularidade do presidente.
“A Rússia está sendo espremida de todos os lados, e o Kremlin não tem muitas saídas”, avaliou Maria Snegovaya, pesquisadora do Center for Strategic and International Studies, em entrevista à Bloomberg em 8 de abril de 2025.
O governo russo tenta minimizar o cenário sombrio.
Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, declarou à imprensa em 4 de abril que “a Rússia sempre encontra maneiras de se adaptar”, mas os sinais no mercado contam outra história. O índice MOEX, principal referência da bolsa de Moscou, caiu 8,05% na última semana, o pior desempenho em quase três anos, segundo dados do The Moscow Times.
Enquanto isso, a recusa de Putin em aceitar um cessar-fogo de 30 dias proposto pela Ucrânia, conforme noticiado pela agência TASS, sugere que ele prefere manter a postura desafiadora, mesmo que isso custe caro ao país, e vai custar.
O que resta é uma nação em encruzilhada, forçada a escolher entre capitular às pressões externas ou assistir à deterioração de sua economia. As tarifas de Trump, inicialmente vistas como um possível respiro para Moscou, revelaram-se um catalisador de instabilidade, minando o sonho de Putin de um futuro grandioso para a Rússia. À medida que os preços do petróleo despencam e as reservas minguam, o Kremlin enfrenta um teste de resistência que pode redefinir seu lugar no tabuleiro global.