O crime que levou Sigmon à pena capital foi um ato de desespero e ciúme.
Na noite de 7 de março de 2025, Brad Keith Sigmon, de 67 anos, tornou-se o protagonista de um evento que marcou a história recente da justiça criminal americana: sua execução por pelotão de fuzilamento na Carolina do Sul, a primeira desse tipo nos Estados Unidos em quase 15 anos.
Condenado em 2002 pelo assassinato brutal dos pais de sua ex-namorada, David e Gladys Larke, Sigmon enfrentou o desfecho de uma trajetória marcada por violência, arrependimento tardio e um debate ético que ressoa além das fronteiras do estado. O caso, ocorrido em Greenville County em abril de 2001, revelou a obsessão de Sigmon por sua ex-parceira, Rebecca Barbare, culminando em um ataque com taco de beisebol que ceifou duas vidas e mudou o curso de muitas outras.
A escolha do fuzilamento como método de execução não foi aleatória. Em um sistema que oferece aos condenados da Carolina do Sul existem três opções, cadeira elétrica, injeção letal ou pelotão de fuzilamento, Sigmon optou por este último, rejeitando a eletrocução, que descreveu como um processo que o “queimaria vivo”, e a injeção letal, cercada de incertezas devido à falta de transparência sobre os fármacos utilizados.
Seu advogado, Gerald “Bo” King, destacou que a decisão refletiu o medo de um sofrimento prolongado, inspirado pelos relatos de execuções recentes no estado, como a de Marion Bowman Jr. em janeiro de 2025, onde uma autópsia revelou edema pulmonar, uma condição que simula afogamento. Assim, Sigmon escolheu o que considerou o “mal menor”, mesmo sabendo que os disparos de rifles de alta potência, realizados por três voluntários do Departamento de Correções, destruiriam seu corpo de forma visceral.
O crime que levou Sigmon à pena capital foi um ato de desespero e ciúme. Após o término de seu relacionamento com Barbare, ele invadiu a casa dos Larke, matando David, de 62 anos, e Gladys, de 59, com golpes repetidos na cabeça. Em seguida, sequestrou Barbare sob a mira de uma arma, mas ela conseguiu escapar, ferida, enquanto ele fugia.
Capturado após 11 dias em Tennessee, Sigmon confessou, declarando: “Se eu não pudesse tê-la, ninguém mais a teria.” Essa frase, registrada em documentos judiciais, encapsulou a motivação de um homem cuja defesa, anos depois, alegaria sofrer de transtorno bipolar não diagnosticado e traumas de uma infância abusiva, fatores que, segundo seus advogados, não foram devidamente considerados em seu julgamento.

A execução de Sigmon reacendeu discussões sobre a pena de morte nos EUA, especialmente em um estado que retomou as execuções em 2021 após uma pausa de uma década, motivada pela escassez de drogas para injeção letal.
A Carolina do Sul investiu cerca de 54 mil dólares para adaptar sua câmara de execução ao fuzilamento, instalando vidros à prova de balas e uma bacia para conter o sangue, um sinal da preparação meticulosa para um método que muitos consideram arcaico.
Antes de sua morte, Sigmon compartilhou sua última refeição três baldes de frango frito da Kentucky Fried Chicken com outros presos no corredor da morte, um gesto que, segundo King, refletia sua transformação de arrependimento em uma figura de apoio e fé entre os detentos.
Enquanto o corpo de Sigmon era atingido pelos disparos às 18h08 no Broad River Correctional Institution, em Columbia, dezenas de manifestantes do lado de fora erguiam cartazes como “Toda vida é preciosa”, ecoando um apelo por clemência que não encontrou resposta do governador Henry McMaster.
A execução, assistida por familiares das vítimas e pela mídia, foi descrita como rápida, mas visceral: seu peito subiu e desceu por alguns instantes antes que um médico confirmasse sua morte. Para alguns, como Randy Gardner, cujo irmão Ronnie Lee foi o último executado por fuzilamento nos EUA em 2010, o método é uma relíquia “bárbara”; para outros, como o neto das vítimas, Ricky Sims, foi uma justiça atrasada por mais de duas décadas.
O caso de Sigmon não é apenas o fim de uma vida, mas um espelho das tensões éticas e práticas que cercam a pena capital. Em um país onde apenas cinco estados permitem o fuzilamento, sua morte levanta questões sobre redenção, castigo e os limites da humanidade em um sistema que, para muitos, ainda busca equilíbrio entre vingança e reparação.