Em 13 de março de 2025, a Universidade de Columbia, uma das mais prestigiadas instituições da Ivy League, anunciou uma série de medidas disciplinares severas contra estudantes envolvidos em protestos pró-Palestina realizados no campus em 2024.
Suspensões de longo prazo, revogações temporárias de diplomas e até expulsões foram aplicadas a dezenas de alunos que participaram da ocupação do Hamilton Hall, um edifício histórico da universidade, durante atos contra a guerra em Gaza e a favor do desinvestimento em empresas ligadas a Israel.
A decisão, que ocorre em meio a um clima político inflamado nos Estados Unidos, expõe as fissuras entre liberdade de expressão, segurança no campus e as pressões de um governo recém-empossado sob Donald Trump, que prometeu uma repressão implacável a manifestações que apoiem terroristas.
Os protestos na Columbia começaram em abril de 2024, quando estudantes montaram acampamentos e ocuparam prédios em resposta ao conflito entre Israel e o Hamas.
Inspirados por uma onda de mobilizações que varreu campi americanos, como Harvard e Yale, os manifestantes exigiam que a universidade cortasse laços financeiros com Israel e condenasse publicamente as ações militares no território palestino.
A ocupação do Hamilton Hall, rebatizado simbolicamente de “Hind Hall” em homenagem a uma criança palestina morta no conflito, marcou o ápice da resistência estudantil, e também o estopim para a resposta institucional.
A universidade justificou as punições como uma medida para restaurar a ordem e proteger a comunidade acadêmica, alegando que os protestos ultrapassaram os limites da liberdade de expressão ao gerar um ambiente de intimidação.
A presidente interina, Katrina Armstrong, declarou que as ações foram tomadas após um processo disciplinar conduzido pelo Conselho Judicial da instituição, que analisou evidências ao longo de meses. Embora o número exato de alunos afetados não tenha sido divulgado, estimativas baseadas em relatos da imprensa sugerem que pelo menos 22 estudantes foram diretamente punidos, um número que reflete a intensidade da repressão.
Esse movimento da Columbia não pode ser dissociado do contexto político mais amplo, empossado em janeiro de 2025, o governo Trump adotou uma postura linha-dura contra o que classifica como “manifestações ilegais” em universidades, cortando cerca de US$ 400 milhões em verbas federais da Columbia na semana anterior ao anúncio das punições.
A medida foi justificada por suposta negligência da universidade em coibir o “antissemitismo” no campus, uma acusação que ecoa narrativas republicanas de que os protestos pró-Palestina são inerentemente discriminatórios contra estudantes judeus.
A prisão de Mahmoud Khalil, um estudante palestino de pós-graduação e líder dos protestos, por agentes do Departamento de Segurança Interna em 8 de março, intensificou ainda mais o debate, com Trump prometendo “muitas deportações” de ativistas estrangeiros.

No entanto, a narrativa de antissemitismo é contestada pelos próprios manifestantes, organizações como a Columbia University Apartheid Divest afirmam que as acusações são uma tentativa de deslegitimar um movimento focado na justiça social e no fim do que chamam de “genocídio em Gaza”.
Eles destacam que judeus, muçulmanos, palestinos e outros grupos diversos participaram dos atos, rejeitando qualquer forma de ódio. Essa diversidade, argumentam, reflete a complexidade do apoio à causa palestina nos EUA, onde a solidariedade transcende divisões étnicas ou religiosas.
A resposta da Columbia também levanta questões sobre o equilíbrio entre disciplina e repressão, críticos apontam que o uso de processos secretos para investigar e punir estudantes, é uma prática que ganhou força com a criação de um novo escritório interno para monitorar protestos sob a égide da legislação de direitos civis Title VI, que mina os princípios de transparência e devido processo.
A legislação, originalmente destinada a combater discriminação, tem sido reinterpretada para enquadrar críticas a Israel como “assédio discriminatório”, uma expansão que preocupa defensores da liberdade acadêmica.
Do outro lado, a administração da universidade enfrenta pressão de estudantes judeus e grupos pró-Israel, que relatam sentirse inseguros diante de faixas, gritos e bloqueios durante os protestos. Um incidente amplamente divulgado envolveu um professor judeu barrado de entrar no campus, o que alimentou a percepção de que os atos ultrapassaram o limite do discurso aceitável.
A longo prazo, as punições podem ter um efeito inibidor sobre o ativismo estudantil, especialmente em um momento em que o governo federal sinaliza tolerância zero a dissidências percebidas como radicais.
Ainda assim, a resistência persiste, horas após o anúncio das sanções, estudantes organizaram uma vigília silenciosa no campus, prometendo continuar a luta por desinvestimento e solidariedade com a Palestina.
Para eles, as expulsões não representam o fim, mas sim um capítulo de uma batalha mais ampla, que reflete não apenas o destino de Gaza, mas também o futuro da liberdade de expressão nas universidades americanas. No entanto, os alunos precisam entender que uma universidade tem outros propósitos, não sendo um espaço destinado a protestos, algo que Columbia está deixando evidente com suas punições.