Keith Kellogg, enviado especial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a Ucrânia, esclareceu publicamente que não sugeriu qualquer divisão territorial do país em negociações para o fim do conflito com a Rússia.
Em uma mensagem publicada na rede social X no sábado, (12), Kellogg afirmou que suas declarações, publicadas pelo jornal britânico The Times, foram mal interpretadas.
Ele destacou que se referia à criação de uma força aliada de estabilização após um eventual cessar-fogo, destinada a proteger a soberania ucraniana, sem o envolvimento de tropas americanas.
A controvérsia surgiu após uma entrevista ao The Times, na qual Kellogg comparou um possível cenário pós-conflito a Berlim após a Segunda Guerra Mundial, com zonas de influência divididas entre potências.
A menção ao rio Dnieper como uma possível linha de separação entre forças europeias, a oeste, e russas, a leste, gerou especulações sobre uma proposta de partilha. “Minha intenção foi discutir áreas de responsabilidade para uma força de paz, não a redefinição das fronteiras da Ucrânia”, reiterou Kellogg, enfatizando que qualquer iniciativa visaria fortalecer a independência do país.
O conflito, iniciado com a invasão russa em 24 de fevereiro de 2022, já dura mais de três anos, com avanços limitados para uma trégua.
Países como França e Reino Unido manifestaram apoio à ideia de uma missão europeia de manutenção da paz, que poderia incluir tropas posicionadas em território ucraniano após um acordo.
Kellogg sugeriu que uma zona desmilitarizada, com 15 quilômetros de largura de cada lado da linha de frente, poderia ser estabelecida, inspirada no modelo da fronteira entre as Coreias, embora reconheça que violações seriam prováveis.
A proposta enfrenta resistência, autoridades ucranianas, incluindo o presidente Volodymyr Zelensky, insistem que qualquer negociação deve garantir a integridade territorial do país, rejeitando concessões que legitimem ocupações russas.
Estima-se que Moscou controle cerca de 18% do território ucraniano, incluindo a Crimeia e partes do leste, segundo análises do Instituto para o Estudo da Guerra de 2025.
Do lado europeu, líderes temem que a ausência de tropas americanas enfraqueça a capacidade de dissuasão contra a Rússia, especialmente após a suspensão da ajuda militar dos EUA a Kiev, anunciada em março.
Enquanto isso, a administração Trump busca acelerar o diálogo, com encontros frequentes entre enviados americanos e autoridades russas.
A recente reunião entre Steve Witkoff, outro representante dos EUA, e o presidente russo Vladimir Putin, em São Petersburgo, sinaliza a continuidade das tratativas, embora sem avanços concretos divulgados.
Para analistas, a proposta de Kellogg, mesmo reformulada, levanta questões sobre o papel da Europa e da OTAN em um eventual acordo, em um momento em que a Ucrânia depende fortemente do apoio ocidental para sua defesa.
O esclarecimento do enviado americano não dissipou todas as dúvidas, a sugestão de forças aliadas, sem envolvimento direto dos EUA, pode sobrecarregar aliados europeus, cujos exércitos enfrentam limitações logísticas, conforme apontado por um relatório do Instituto Kiel de 2024.
Ainda assim, Kellogg mantém que o objetivo é uma paz duradoura, com a Ucrânia no centro das decisões. “Qualquer passo será para garantir que o país permaneça soberano e seguro”, concluiu.
Fontes: Instituto para o Estudo da Guerra, Instituto Kiel, The Times e Rede Social X