Para a África do Sul, que atualmente preside o G20, o incidente desafia sua posição como líder
Os Estados Unidos tomaram a drástica decisão de expulsar o embaixador da África do Sul, uma medida anunciada em 14 de março de 2025 pelo secretário de Estado, Marco Rubio.
Em uma declaração contundente, Rubio classificou o diplomata Ebrahim Rasool como um “político que incita divisões raciais” e acusou-o de nutrir um profundo desprezo tanto pelo país quanto pelo presidente Donald Trump.
A ação, que reflete o uso do status de “persona non grata”, um mecanismo diplomático raro para embaixadores de alto escalão, marca um ponto de inflexão nas já tensas relações entre Washington e Pretória.
Do lado sul-africano, a resposta foi de consternação mesclada com um apelo à moderação, o governo da África do Sul, liderado pelo presidente Cyril Ramaphosa, expressou pesar pela decisão, descrevendo-a como “lamentável” e reiterando seu desejo de preservar laços mutuamente benéficos com os EUA.
Em comunicado, a presidência sul-africana defendeu o cumprimento das convenções diplomáticas, sugerindo que a expulsão representa um desvio das normas que regem as interações entre nações soberanas.
Esse episódio não surge isoladamente, as relações entre os dois países vinham se deteriorando, impulsionadas por divergências políticas e ideológicas
A administração Trump, por exemplo, já havia cortado assistência financeira à África do Sul, justificando a medida com críticas à política de reforma agrária do país, que permite a desapropriação de terras sem compensação para corrigir desigualdades históricas e ao posicionamento sul-africano em questões internacionais, como seu apoio à causa palestina e a denúncia de Israel na Corte Internacional de Justiça.

Rubio, ao justificar a expulsão, parece ecoar essas tensões, apontando para o que ele percebe como uma postura hostil de Rasool em relação aos valores e liderança americanos.
O que torna essa situação particularmente fascinante é o contraste entre os discursos, enquanto os EUA enquadram o embaixador como uma figura divisiva, a África do Sul o defende como um representante de sua soberania e história, uma nação que, tendo superado o apartheid, busca reequilibrar sua sociedade.
A troca de acusações revela não apenas um choque de personalidades ou políticas, mas uma colisão de narrativas sobre raça, poder e influência global.
Essa ruptura diplomática pode ter consequências duradouras, além de complicar a cooperação bilateral em áreas como comércio e segurança, ela sinaliza uma abordagem mais assertiva, e talvez menos conciliatória da política externa americana sob Trump.
Para a África do Sul, que atualmente preside o G20, o incidente desafia sua posição como líder no cenário internacional. Resta saber se ambos os lados conseguirão encontrar um caminho de volta ao diálogo ou se este é apenas o prelúdio de uma animosidade mais profunda.