Esta semana, em 5 de abril de 2025, a Espanha anunciou o fim da emissão dos “vistos Gold”, um programa que permitia a estrangeiros obter residência mediante investimentos significativos, geralmente no setor imobiliário.
Curiosamente, Portugal seguiu um caminho semelhante há dois anos, em 2023, quando reformulou drasticamente seu próprio sistema de “vistos Gold”, restringindo investimentos imobiliários em áreas urbanas saturadas.
Esses programas, antes vistos como motores econômicos, agora enfrentam críticas por seus efeitos colaterais, especialmente em um cenário de crise habitacional que assola os dois países ibéricos.
Tanto em Espanha quanto em Portugal, a escassez de moradias disponíveis, particularmente para arrendamento, tornou-se um desafio crescente.
Em cidades como Lisboa, Barcelona, Madrid, e nas regiões costeiras como Barcelona e Valência as mais procuradas pelos turistas, os preços dos aluguéis dispararam, alimentados por uma combinação de demanda elevada e oferta limitada.
Em Portugal, por exemplo, a transformação de propriedades em alojamentos turísticos de curto prazo, como os listados em plataformas digitais, reduziu o estoque de habitações para residentes locais.
Na Espanha, um fenômeno semelhante ocorre, com investidores estrangeiros muitos dos quais beneficiados pelos “vistos Gold” adquirindo imóveis que raramente são destinados ao mercado de arrendamento de longo prazo.
Essa pressão imobiliária não é apenas um reflexo do turismo ou da especulação, ela revela uma mudança estrutural: o foco em atrair capital externo, que outrora impulsionou a recuperação pós-crise, agora colide com as necessidades das populações locais.
Em Málaga, por exemplo, os preços de aluguel subiram cerca de 20% nos últimos dois anos, segundo estimativas do mercado imobiliário espanhol, enquanto em Lisboa, estudos recentes indicam que o custo médio de arrendamento já consome mais de 40% do salário médio mensal.
Esses números, embora baseados em tendências amplamente discutidas, destacam uma realidade que os governos de ambos os países não podem mais ignorar.
O fim dos “vistos Gold” na Espanha e as reformas em Portugal que aconteceram em 2023, sugerem uma tentativa de reequilibrar o acesso à habitação, priorizando os residentes em vez de investidores internacionais.
Contudo, a solução não é imediata, a falta de políticas robustas para aumentar a oferta de moradias acessíveis continua a desafiar as autoridades, enquanto os preços nas zonas turísticas e urbanas seguem sua escalada. Assim, o que começou como uma ferramenta de estímulo econômico pode estar dando lugar a uma reflexão mais profunda sobre quem, de fato, esses países pretendem servir com suas políticas.