Huawei avança com novo chip de inteligência artificial para competir com Nvidia na China
A gigante tecnológica chinesa Huawei está prestes a iniciar a produção em massa de seu mais recente chip de inteligência artificial, o Ascend 910C, com envios previstos para começar em maio.
A iniciativa surge em um momento crucial, enquanto a China intensifica esforços para desenvolver alternativas aos chips da Nvidia, líder global no mercado de processadores para IA. A informação foi confirmada por fontes próximas ao projeto, que optaram pelo anonimato devido à sensibilidade do assunto e ao temor de represálias do governo comunista chinês.
O Ascend 910C é uma evolução do modelo anterior, o 910B, e promete desempenho competitivo, especialmente para tarefas de inferência em modelos de linguagem avançados.
Diferentemente de um salto tecnológico radical, o novo chip combina dois processadores 910B em um único pacote, utilizando técnicas avançadas de integração para alcançar eficiência comparável ao chip H100 da Nvidia, segundo fontes familiarizadas com o projeto.
Essa estratégia reflete a busca da Huawei por soluções inovadoras em meio a restrições impostas pelos Estados Unidos, que limitam o acesso da China a tecnologias de ponta.
As sanções americanas, intensificadas desde 2022, bloquearam a venda de chips avançados da Nvidia, como o H100 e o B200, para o mercado chinês, citando preocupações com segurança nacional. Recentemente, até o chip H20, projetado pela Nvidia para atender às restrições, passou a exigir licença de exportação, decisão anunciada pela administração de Donald Trump em abril de 2025.
Esse cenário abriu espaço para a Huawei e outras empresas chinesas, como Moore Threads e Iluvatar CoreX, ganharem terreno em um mercado antes dominado pela Nvidia. “As restrições ao H20 tornam o Ascend 910C a escolha natural para desenvolvedores de IA na China, especialmente para aplicações de inferência”, afirmou Paul Triolo, analista da Albright Stonebridge Group.
A Huawei enfrenta, no entanto, desafios significativos, a produção do 910C depende de parcerias com fabricantes como a SMIC, que opera com tecnologia de 7 nanômetros, menos avançada que os processos de ponta usados por concorrentes globais. Relatos indicam que a taxa de rendimento do 910B, antecessor do 910C, era de apenas 50%, o que levou a atrasos em pedidos e cortes nas metas de produção.
Apesar disso, a Huawei teria melhorado o rendimento do 910C para cerca de 40% em 2025, embora ainda fique atrás dos padrões globais, que giram em torno de 60% para chips de IA de grande escala, segundo análise da Merics.
Outro ponto de atenção é a dependência de componentes fabricados pela TSMC, de Taiwan, para alguns dos chips 910C, por meio da empresa chinesa Sophgo.
Essa relação está sob escrutínio do Departamento de Comércio dos EUA, que investiga se chips da TSMC, destinados à Sophgo, foram usados pela Huawei, violando restrições impostas desde 2020. A TSMC nega qualquer fornecimento direto à Huawei desde setembro daquele ano, enquanto a Sophgo não comentou o caso.
Apesar dos obstáculos, a Huawei tem conquistado espaço, em 2024, a empresa vendeu 200 mil unidades do 910B, e planeja atingir 300 mil em 2025, além de produzir 100 mil unidades do 910C, segundo estimativas da Merics. A demanda é impulsionada por gigantes tecnológicas chinesas, como ByteDance e Tencent, que buscam alternativas locais após as restrições à Nvidia.
A Huawei também investe em sua plataforma de software, o CANN, embora ainda enfrente dificuldades para rivalizar com o ecossistema CUDA da Nvidia, amplamente adotado por desenvolvedores.
O avanço da Huawei é visto como parte de um esforço nacional para alcançar autossuficiência tecnológica. O governo chinês tem apoiado a empresa com subsídios e incentivos, enquanto promove a substituição de chips estrangeiros em setores estratégicos.
“A Huawei está se consolidando como líder na cadeia de suprimentos de semicondutores da China, integrando desde o design até a fabricação”, observa Antonia Hmaidi, analista sênior da Merics.
No entanto, ela alerta que a incapacidade de acessar equipamentos de litografia avançada, como os da holandesa ASML, continua a limitar a escalabilidade da produção.
Para a indústria global, o fortalecimento da Huawei levanta preocupações. Fabricantes americanos, como Nvidia, AMD e Intel, enfrentam perdas significativas no mercado chinês, que consome mais chips do que qualquer outro país.
Após o anúncio das novas restrições, as ações da Nvidia caíram 8,4% em dois dias, enquanto AMD e Intel registraram quedas de 7,4% e 6,8%, respectivamente, segundo o The New York Times. Enquanto isso, a Huawei se posiciona como uma força ascendente, desafiando o domínio ocidental em um setor crítico para o futuro da tecnologia.
/ Seattle / EUA /