Ex-assessor de Moraes pode ser convidado a explicar relatórios em comissão da Câmara
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) apresentou um requerimento para convidar Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, a prestar esclarecimentos na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados.
A iniciativa busca esclarecer a produção de relatórios sobre políticos, influenciadores e veículos de imprensa, supostamente ordenada por Moraes durante sua presidência no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre 2022 e 2023.
Para Ferreira, a sociedade merece respostas sobre possíveis abusos de autoridade por parte do ministro, especialmente após a divulgação de mensagens que levantaram questionamentos sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e do TSE.
Tagliaferro, que chefiou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE, está no centro de uma investigação da Polícia Federal (PF). Em abril de 2025, ele foi indiciado por violação de sigilo funcional, acusado de repassar informações sigilosas a um jornalista da Folha de S.Paulo.
As mensagens que foram repassadas, e publicadas pela imprensa, sugerem que o gabinete de Moraes solicitava relatórios de forma não oficial para embasar investigações no STF, incluindo o inquérito interminável das fake news.
Segundo a PF, Tagliaferro teria compartilhado dados obtidos em sua função no TSE, que deveriam permanecer sob sigilo, com o objetivo de comprometer a imagem do ministro e das instituições judiciais. A Procuradoria-Geral da República (PGR) analisa agora se apresentará denúncia contra o ex-assessor.
A defesa de Tagliaferro nega as acusações.
Em nota, o advogado Eduardo Kuntz afirmou que seu cliente “não foi responsável pelo vazamento” e criticou a fragilidade das provas apresentadas pela PF. O ex-assessor também relatou à CNN Brasil temer retaliações de Moraes, citando preocupações com a condução do inquérito pelo próprio ministro, que é apontado como vítima no caso.
O ex-assessor confessou ter vontade de “expor tudo o que acontece em Brasília” antes de morrer. Tagliaferro mencionou o desejo de “colocar tudo em pratos limpos” e “revelar os bastidores”, mas disse temer graves consequências, afirmando que “se eu abrir a boca, o ministro pode me destruir ou mandar me prender”.
Por se tratar de um convite, e não uma convocação, Tagliaferro não é obrigado a comparecer à comissão, caso o requerimento de Ferreira seja aprovado.
O deputado, no entanto, insiste na importância de trazer transparência aos fatos. “A sociedade precisa saber a verdade sobre ações que podem ter extrapolado os limites do Estado Democrático de Direito”, declarou Ferreira em suas redes sociais.
O caso ganhou destaque após reportagens da Folha de S.Paulo revelarem trocas de mensagens entre Tagliaferro e outros auxiliares de Moraes, indicando que o TSE foi usado para produzir relatórios sem registros formais.
Esses documentos, segundo as investigações, embasaram medidas contra figuras públicas, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados. Moraes, por sua vez, nega irregularidades, afirmando que todos os procedimentos foram devidamente documentados e acompanhados pela PGR.
A movimentação de Nikolas Ferreira reacende o debate sobre os limites do combate à desinformação e a atuação do STF em investigações sensíveis. Enquanto apoiadores do deputado veem a iniciativa como um passo para expor possíveis excessos, críticos argumentam que o convite pode servir a interesses políticos, ampliando a polarização em torno do Judiciário.
O desfecho do requerimento e a decisão da PGR sobre o indiciamento de Tagliaferro devem manter o caso em evidência nos próximos meses.
/ Seattle / EUA /