Israel enfrenta crise política após prisão de agente do Shin Bet por vazamento de informações
Um oficial reservista do Shin Bet, agência de segurança interna de Israel, foi detido sob suspeita de vazar informações confidenciais para um ministro do governo e dois jornalistas, desencadeando uma onda de controvérsias em Jerusalém.
A prisão, anunciada hoje (15), expõe tensões entre o establishment de segurança e membros da coalizão governista, em um momento já marcado por divisões políticas no país.
A investigação, conduzida pelo Departamento de Investigações Internas da Polícia (PID), revelou que o agente, identificado apenas como “Aleph” por restrições judiciais, teria explorado seu acesso privilegiado aos sistemas da agência para compartilhar dados sensíveis.
A operação foi autorizada pela procuradora-geral, conforme exige a legislação para casos que envolvem funcionários do Shin Bet. Embora os detalhes dos vazamentos permaneçam sob sigilo, os advogados do suspeito, Uri Korb e Sivan Russo, declararam que ele admitiu ter compartilhado informações em dois episódios distintos, motivado pela crença de que os dados eram de “interesse público crucial” e não comprometiam a segurança nacional.
“Nosso cliente agiu com a convicção de que estava servindo ao bem maior, sem expor segredos que pudessem prejudicar Israel”, afirmou Korb em entrevista à imprensa.
Fontes próximas à investigação sugerem que os vazamentos abordavam questões delicadas, incluindo uma suposta apuração interna sobre influências extremistas na polícia israelense e críticas à condução do Shin Bet antes dos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023.
O material teria sido repassado ao ministro de Assuntos da Diáspora, Amichai Chikli, e aos jornalistas Amit Segal, da emissora Channel 12, e Shirit Avitan-Cohen, do jornal Israel Hayom. Chikli, elogiou o agente como um “herói” que expôs irregularidades na agência, acusando o diretor do Shin Bet, Ronen Bar, de conduzir investigações politizadas contra membros do governo.
A prisão gerou reações intensas no espectro político. Parlamentares da coalizão, como o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, classificaram a ação como evidência de um “estado profundo” que persegue aliados do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Ben-Gvir chegou a sugerir, que jornalistas foram espionados, acusação negada veementemente pelo Shin Bet.
Em contrapartida, líderes da oposição, como Yair Lapid, condenaram as alegações da coalizão como tentativas de desviar o foco de outras investigações, incluindo suspeitas de laços impróprios entre assessores de Netanyahu e financiadores estrangeiros.
O caso também reacende o debate sobre o equilíbrio entre transparência e segurança em Israel. “A sociedade israelense valoriza sua democracia, mas vazamentos de informações sensíveis podem comprometer operações críticas”, observa Miriam Cohen, professora de direito internacional da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Ela destaca que o Shin Bet, responsável por contraterrorismo e inteligência interna, opera sob estrito sigilo, e incidentes como esse podem abalar a confiança pública na instituição.
O tribunal de Lod estendeu a detenção de Aleph até a tarde de 16 de abril, enquanto a PID continua a apurar o alcance dos vazamentos. O Shin Bet disse que nenhum jornalista foi interrogado ou monitorado, buscando conter as acusações de abuso de poder.
À medida que o caso se desdobra, analistas preveem que ele intensificará as pressões sobre Netanyahu, cujo governo enfrenta críticas crescentes por sua gestão de crises de segurança e disputas internas na coalizão.
Fontes: Declarações dos advogados Uri Korb e Sivan Russo à imprensa – Comunicado oficial do Shin Bet