O incidente no voo da Air Canada prova que, mesmo a 30 mil pés de altitude, não há como escapar das complexidades do chão
Durante um voo rotineiro da Air Canada entre Vancouver e Toronto em 10 de março de 2025, um passageiro atento registrou algo que chamou a atenção de muitos: o mapa exibido nas telas do entretenimento a bordo não trazia o nome “Israel”.
Em seu lugar, a região aparecia rotulada apenas como “Territórios Palestinos”, uma escolha que rapidamente acendeu debates e levantou sobrancelhas. A foto, tirada por esse viajante curioso e compartilhada amplamente em redes sociais como o X, transformou um detalhe de voo em um mistério carregado de implicações.
Não é a primeira vez que mapas geram polêmica, eles são, afinal, mais do que simples representações geográficas; são narrativas moldadas por decisões humanas. Mas o que torna esse caso peculiar é o contexto.
A Air Canada, uma companhia que historicamente opera rotas para Tel Aviv (com voos retomados em abril de 2024 após uma pausa devido ao conflito Israel-Hamas, segundo seu site oficial), agora parecia estar enviando uma mensagem diferente através de seu sistema de bordo. Seria isso um erro técnico, uma falha de zoom que omitiu rótulos, ou uma escolha deliberada refletindo alguma postura política?

A imagem capturada mostra a tela com um recorte do Oriente Médio onde o contorno familiar de Israel – um país reconhecido por mais de 160 nações, foi substituído por uma designação que abrange os territórios ocupados da Cisjordânia e Gaza, áreas cuja soberania é disputada há décadas.
Para alguns, como sugerem postagens no X, isso poderia ser apenas um glitch visual, algo comum em mapas digitais que ajustam nomes conforme o nível de aproximação. Um usuário chegou a apontar que, em mapas de carga da Air Canada, Israel ainda aparece, sugerindo que a ausência no voo poderia ser menos intencional do que parece. Mas para outros, o incidente cheira a provocação, especialmente num momento em que as tensões no Oriente Médio continuam a ferver.
O que intriga é a possibilidade de um deslize tão visível passar despercebido por uma empresa do porte da Air Canada, conhecida por revisar minuciosamente questões de segurança e imagem pública.
Mapas de voo não são obras de arte improvisadas; eles passam por fornecedores terceirizados e são atualizados com base em dados globais.
Se o rótulo “Territórios Palestinos” foi intencional, quem tomou essa decisão? E por quê? A companhia ainda não emitiu um comunicado oficial até o fim desse artigo, deixando o campo aberto para especulações que vão de boicotes silenciosos a simples falhas tecnológicas.
Vale lembrar que o Canadá, como nação, mantém uma posição diplomática equilibrada: apoia o direito de Israel à segurança, mas também reconhece a autodeterminação palestina, sem endossar controle permanente israelense sobre territórios ocupados desde 1967, é o tipo que fica em cima do muro.
Será que o mapa reflete, mesmo que acidentalmente, esse malabarismo político? Ou seria apenas um eco das pressões culturais e sociais que empresas enfrentam num mundo cada vez mais polarizado?
Para o passageiro que clicou a foto, o que começou como uma observação casual virou um portal para questionamentos maiores. A ausência de “Israel” naquele mapa não apaga um país da realidade, mas joga luz sobre como até as menores escolhas ou erros, podem reverberar em tempos sensíveis. Seja um bug no sistema ou um statement velado, o incidente no voo da Air Canada prova que, mesmo a 30 mil pés de altitude, não há como escapar das complexidades do chão.