O recém-empossado primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, anunciou neste domingo, 23 de março de 2025, a convocação de uma eleição federal antecipada para o dia 28 de abril.
A decisão, tomada apenas duas semanas após sua posse como líder do Partido Liberal e chefe de governo, reflete a urgência de consolidar um mandato popular em meio a uma crise econômica e política desencadeada pelas ameaças de tarifas e provocações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Carney, um ex-banqueiro central sem experiência prévia em cargos eletivos, busca fortalecer sua posição para enfrentar o que descreveu como o maior desafio à soberania canadense em gerações
A escolha de dissolver o Parlamento e antecipar o pleito, originalmente previsto para ocorrer até outubro de 2025, ocorre em um momento de instabilidade sem precedentes nas relações entre Canadá e Estados Unidos.
Desde o início do ano, Trump intensificou sua retórica contra o vizinho do norte, impondo tarifas de 25% sobre aço e alumínio canadenses em 18 de março e ameaçando repetidamente anexar o país como o 51º estado americano.
Em resposta, o Canadá retaliou com tarifas sobre 29,8 bilhões de dólares em bens americanos, conforme anunciado pelo então ministro das Finanças, Dominic LeBlanc, em 20 de março. Carney, em seu primeiro discurso como premiê após a posse em 14 de março, prometeu não recuar diante da coerção econômica, uma postura que agora levará às urnas.
A trajetória de Carney até este momento é tão incomum quanto o contexto que enfrenta. Aos 60 anos, completados em 16 de março, ele assumiu o comando do país após uma vitória esmagadora na corrida pela liderança do Partido Liberal, obtendo 86% dos votos contra a ex-ministra das Finanças Chrystia Freeland.

Sem nunca ter ocupado um assento no Parlamento, Carney é o primeiro premiê canadense em mais de quatro décadas a tomar posse sem mandato eletivo prévio, um feito que ecoa a ascensão de John Turner em 1984, após a renúncia de Pierre Trudeau. Sua experiência como presidente do Banco do Canadá durante a crise financeira de 2008 e do Banco da Inglaterra durante o Brexit o posiciona como um líder técnico, mas sua falta de raízes políticas tradicionais adiciona um elemento de imprevisibilidade.
A eleição de 28 de abril colocará Carney frente a frente com Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador, que até recentemente dominava as pesquisas de opinião com uma vantagem de até 20 pontos. Poilievre, um político de carreira conhecido por seu populismo e ataques à mídia tradicional, viu sua popularidade diminuir nas últimas semanas, à medida que o sentimento nacionalista canadense cresceu.
Um levantamento da Leger, realizado em 9 de março, já mostrava os Liberais e Conservadores empatados em 37% das intenções de voto, sugerindo uma disputa acirrada. Carney aposta que sua imagem de gestor experiente e diplomático, contrastando com o estilo agressivo de Poilievre, pode galvanizar os eleitores em torno da defesa da identidade e da economia canadenses.
A campanha, que terá cerca de cinco semanas, será um teste não apenas para a liderança de Carney, mas para a resiliência do Canadá como nação. Ele já sinalizou prioridades: diversificar o comércio com aliados como Reino Unido e França, onde fez visitas oficiais em 17 de março, e eliminar políticas impopulares, como o imposto sobre carbono ao consumidor, extinto por decreto em seu primeiro dia no cargo.
Enquanto isso, a retenção de figuras-chave do governo Trudeau em seu gabinete, como Mélanie Joly, responsável pelas Relações Exteriores, e Jonathan Wilkinson, responsável por Energia, indica uma estratégia de continuidade mesclada com renovação. Para Carney, o pleito de abril não é apenas uma busca por legitimidade, mas uma oportunidade de redefinir o futuro do Canadá.