Maradona se recuperava de uma cirurgia para remover um coágulo no cérebro
Quatro anos e meio após a morte de Diego Armando Maradona, o julgamento programado para começar em 11 de março de 2025 na Argentina, abriu uma ferida que o tempo não conseguiu cicatrizar. Em San Isidro, nos arredores de Buenos Aires, sete profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros e coordenadores, sentaraão no banco dos réus, acusados de negligência que teria levado ao fim de um dos maiores ídolos do futebol mundial.
O que poderia ser apenas mais um processo judicial pode se transformar em um evento carregado de emoção, como se o próprio Maradona, com sua genialidade caótica e sua vida intensa, pairasse sobre o tribunal.
A morte do craque, em 25 de novembro de 2020, aos 60 anos, já havia abalado milhões. Ele se recuperava de uma cirurgia para remover um coágulo no cérebro quando sofreu uma parada cardiorrespiratória em uma casa alugada em Tigre.
Desde então, a pergunta que ecoa é: poderia ter sido evitado? O julgamento reacendeu essa angústia, trazendo à tona não apenas os detalhes clínicos de seus últimos dias, mas também o amor e a revolta de uma nação que ainda o vê como um ídolo do futebol mundial.
Para os argentinos, Maradona não foi só um jogador, foi um grito de resistência, uma prova de que o talento pode vencer as adversidades. Ver sua partida ser dissecada em um tribunal é, para muitos, uma mistura de busca por justiça e dor renovada.
A acusação pinta um quadro sombrio, os réus, incluindo o neurocirurgião Leopoldo Luque e a psiquiatra Agustina Cosachov, teriam deixado Maradona em um estado de abandono, com cuidados tão precários que beiraram o descaso.
Um relatório de 2021, produzido por uma junta de 20 especialistas a pedido da Procuradoria de San Isidro, apontou que o ex-jogador “foi deixado à própria sorte” e que um tratamento adequado em uma unidade médica poderia ter aumentado suas chances de sobrevivência.
Agora, com o processo em andamento, os promotores irão argumentar que a equipe sabia do risco iminente, mas não agiu, uma omissão que pode render de 8 a 25 anos de prisão, caso sejam condenados por homicídio simples com dolo eventua.

A sala do tribunal, porém, não é apenas um palco de argumentos jurídicos; é um espelho das emoções coletivas. Filhas como Dalma e Gianinna, estarão presentes entre as 120 testemunhas previstas, carregarão o peso de uma perda pessoal que também é pública.
Dalma, em especial, expressou em entrevistas recentes sua frustração com tentativas de culpar o pai pela própria morte, uma narrativa que ela rejeita com veemência. “Ele não está mais aqui para se defender”, disse ela em um podcast no início de 2025, com a voz embargada que ressoou em muitos corações argentinos.
A ex-esposa Claudia Villafañe e até amigos próximos também devem depor, transformando o julgamento em um desfile de memórias e lágrimas
Do lado de fora, o clima será igualmente intenso. Fãs se reúnirão com cartazes e camisas 10, cantando hinos que Maradona inspirou, enquanto a mídia local transmitirá cada detalhe como se fosse uma partida decisiva.
Para eles, o julgamento não é só sobre culpados; é sobre honrar um legado que transcende o esporte. A possibilidade de um mausoléu em Buenos Aires, o “M10 Memorial”, aprovado dias antes do julgamento, só amplifica esse sentimento, um lugar onde o povo poderá tocar a história de seu herói.
Enquanto o julgamento avança, ele não muda o que Maradona significou em vida, o drible que desafiava a lógica, o gol que enganou o mundo, o troféu erguido em 1986. Mas lança um olhar cru sobre o homem por trás do mito, alguém que, nos seus dias finais, talvez tenha sido traído por aqueles em quem confiava.
A emoção que permeia esse processo não é apenas sobre encontrar justiça; é sobre um povo que, ao buscar respostas, tenta manter viva a chama de seu ídolo eterno. No fim, o tribunal pode decidir o destino dos réus, mas o coração argentino já decretou: Maradona, culpado ou não, segue sendo o rei.