Lula e Boulos: Uma Possível Parceria no Coração do Governo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em meio a um mandato marcado por desafios políticos e expectativas de reestruturação dos pedaços que ainda sobraram, parece estar considerando uma nova peça no tabuleiro do Palácio do Planalto: Guilherme Boulos, deputado federal pelo PSOL-SP.
A possibilidade de Boulos assumir um cargo ministerial, mais especificamente a Secretaria-Geral da Presidência, mas também pode ser cogitado assumir uma pasta voltada para áreas como Desenvolvimento Urbano ou Direitos Humanos, reflete não apenas uma tentativa de oxigenar a equipe governamental, mas também de fortalecer pontes com setores progressistas e movimentos sociais que ajudaram a pavimentar o retorno de Lula ao poder em 2023.
A Secretaria-Geral, atualmente ocupada por Márcio Macêdo (PT), é uma pasta estratégica. Ela funciona como um elo entre o governo e a sociedade civil, articulando demandas de movimentos sociais e coordenando iniciativas que exigem diálogo fora dos corredores tradicionais do Congresso. Boulos, conhecido por sua trajetória como líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e por sua capacidade de mobilização radical da extrema esquerda, traria um perfil combativo e simbólico ao cargo. Sua entrada poderia sinalizar um aceno às bases populares que, em alguns momentos, sentiram falta de uma representação mais direta no núcleo decisório do governo.
Por trás dessa avaliação, há um contexto de rearranjos ministeriais que Lula vem conduzindo desde o início de 2025. Após mudanças como a substituição de Nísia Trindade por Alexandre Padilha no Ministério da Saúde e a nomeação de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais, parece claro que o presidente busca equilibrar forças dentro do PT e ampliar alianças com figuras de peso no campo da extrema esquerda, mas a radicalização começa a dar passos mais ousados rumo ao abismo onde Lula está. Boulos, embora filiado ao PSOL, tem uma relação próxima com Lula, consolidada durante a campanha municipal de 2024 em São Paulo – mesmo que a derrota para Ricardo Nunes (MDB) tenha exposto os limites dessa parceria em disputas locais.
A escolha de Boulos, no entanto, não é isenta de riscos. Sua figura carrega uma carga ideológica forte, associada a pautas de moradia, tanto que ele é conhecido como “invasor de propriedade privada”, o que pode gerar resistências em setores mais moderados do Congresso e do eleitorado
Em um momento em que Lula enfrenta desafios para recuperar popularidade e pavimentar o caminho para as eleições de 2026, trazer um nome como Boulos ao Planalto poderia ser interpretado como uma aposta arriscada: um reforço da identidade progressista do governo, mas também um potencial obstáculo na costura de alianças com o centrão e outros grupos pragmáticos.

Outro ponto a considerar é o próprio percurso político de Boulos. Após anos à frente de lutas nas ruas, ele transitou para o Legislativo com uma votação expressiva em 2022, mostrando habilidade para converter capital social em influência institucional.
Contudo, sua experiência em gestão pública é limitada ou praticamente nula, o que levanta questões sobre como ele se adaptaria às demandas burocráticas e políticas de um cargo no Executivo. Ainda assim, Lula parece enxergar nele não apenas um aliado, mas um símbolo de renovação – alguém capaz de reacender o entusiasmo de uma base que, após dois anos de governo, pode estar buscando sinais mais claros de transformação, mas também pode ser um momento de desespero de Lula, já que seu governo não consegue se consolidar com tantos erros cometidos e não está conseguindo perceber que o problema pode aumentar com tanta radicalização.
Se confirmada, essa movimentação também teria implicações no tabuleiro partidário. O PSOL, que historicamente mantém uma postura crítica ao PT, poderia ganhar um espaço inédito no coração do governo federal, enquanto o PT, por sua vez, consolidaria sua hegemonia ao cooptar uma liderança carismática de outra legenda. Seria uma jogada de mestre ou um passo em falso? A resposta dependerá de como Boulos e o próprio Lula navegariam as tensões entre os ideais das ruas e as negociações dos gabinetes, pois o que percebemos aqui, como o tempo é curto para ampliar a agenda progressista, parece estar indo para o tudo ou nada.
Em suma, a avaliação de Boulos para o Planalto reflete o esforço de Lula em equilibrar governabilidade e identidade política. É uma decisão que olha tanto para o passado, resgatando o apoio das periferias e dos movimentos sociais, quanto para o futuro, mirando um projeto de poder que resista aos ventos conservadores de 2026. Resta saber se essa possível nomeação será um trunfo ou um desafio a mais em um governo que ainda busca encontrar seu ritmo.