Café dispara nas bolsas internacionais com preocupações sobre oferta global
Londres, 15 de abril de 2025
Os preços do café registraram uma forte alta nas bolsas internacionais nesta terça-feira, 15 de abril de 2025, impulsionados por temores de uma oferta global restrita e condições climáticas adversas nas principais regiões produtoras.
Na Bolsa de Nova York, os contratos futuros do café arábica para julho de 2025 alcançaram 368,50 centavos por libra, um aumento de 4,2% em relação ao fechamento da sessão anterior. Já na Bolsa de Londres, o café robusta subiu 3,8%, cotado a 3.920 dólares por tonelada, segundo dados da agência Bloomberg.
A escalada dos preços é atribuída a uma combinação de fatores que pressionam a disponibilidade do grão. No Brasil, maior produtor mundial, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a safra de 2025 será de 51,8 milhões de sacas de 60 quilos, uma queda de 4,4% em comparação com o ciclo anterior.
As chuvas recentes não foram suficientes para reverter os danos nas lavouras, mas não é só culpa da chuva, a bienalidade negativa do café arábica deve limitar ainda mais a produção”, explica Mariana Costa, analista de commodities da consultoria Safras & Mercado.
No Vietnã, segundo maior produtor global e líder na variedade robusta, a produção também enfrenta desafios. Relatórios da Organização Internacional do Café (OIC) indicam uma redução de 12% na safra 2024/2025 do país, causada por estiagem severa no primeiro semestre de 2024.
A escassez global de grãos robusta elevou a demanda pelo café conilon brasileiro, mas os estoques domésticos estão próximos do mínimo histórico, conforme apontado pela Conab.
A alta dos preços internacionais do café já pressiona o mercado interno do Brasil. Em janeiro de 2025, o café moído no varejo custava, em média, 56,10 reais por quilo. Em abril, porém, a situação mudou significativamente: nas gôndolas dos supermercados, o preço médio do café tipo exportação alcançou 42,00 reais por meio quilo, um aumento significativo em relação a abril de 2024.
“Os consumidores devem se preparar para novos reajustes, já que as indústrias estão repassando gradualmente os custos elevados da matéria-prima”, afirma Celírio Inácio, diretor-executivo da Abic.
A pressão sobre os preços do café é intensificada pelo crescimento da demanda global, mas o que explica a disparada tão acentuada de um ano para outro? A equação parece não se equilibrar, especialmente diante de indícios de estoques acumulados. Em mercados emergentes como China e Índia, o consumo de café avança a uma taxa anual de 7%, conforme dados da Organização Internacional do Café (OIC).
Somado a isso, a valorização do dólar em relação ao real torna as exportações brasileiras mais lucrativas, incentivando produtores a priorizarem o mercado externo. Como resultado, a oferta interna no Brasil fica reduzida, gerando um desabastecimento relativo que contribui para a alta dos preços no mercado doméstico.
Em março de 2025, as exportações de café verde atingiram 4,2 milhões de sacas, um aumento de 15% em relação ao mesmo período de 2024, conforme dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Especialistas alertam que os preços do café devem continuar altos até pelo menos 2026, quando se espera uma recuperação das lavouras, desde que o clima seja favorável. Contudo, resta a dúvida: e se os estoques existentes forem finalmente liberados para o mercado?
“O café é uma cultura sensível, e eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes. Isso exige investimentos em tecnologias de irrigação e manejo sustentável para mitigar os impactos”, observa Antônio de Salvo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg).
Enquanto os produtores brasileiros aproveitam margens de lucro elevadas ao exportar o café, os consumidores enfrentam dificuldades para incluir o produto, presente em 98% dos lares do país, em orçamentos domésticos cada vez mais restritos. Há esperança de que o governo analise medidas para frear a inflação dos alimentos, mas é improvável esperar ações concretas da administração Lula, que, até o momento, não apresentou iniciativas nesse sentido e enfrenta um mandato que parece se aproximar do fim sem avanços significativos. Por ora, o cafezinho diário seguirá onerando o bolso dos brasileiros.
Fontes: Estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – Relatórios da Organização Internacional do Café (OIC) – Dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé)