IBM aposta US$ 150 bilhões em tecnologia nos EUA em meio a pressões tarifárias de Trump
A gigante da tecnologia IBM anunciou, nesta segunda-feira, 28 de abril de 2025, um plano ambicioso de investir US$ 150 bilhões nos Estados Unidos ao longo dos próximos cinco anos, com foco em fortalecer sua liderança em computação avançada e inteligência artificial.
O montante, que inclui mais de US$ 30 bilhões destinados à pesquisa e desenvolvimento de mainframes e computadores quânticos, visa expandir a capacidade de manufatura doméstica da empresa, especialmente em sua unidade de Poughkeepsie, Nova York, onde já produz sistemas que processam cerca de 70% das transações globais por valor.
O anúncio ocorre em um momento de incerteza econômica, com analistas apontando que a iniciativa pode ser uma estratégia para mitigar os impactos das políticas tarifárias do presidente Donald Trump.
O investimento da IBM se alinha a uma onda de compromissos semelhantes de outras gigantes tecnológicas, como Nvidia e Apple, que também prometeram bilhões em manufatura nos EUA desde a posse de Trump, em janeiro de 2025.
A administração atual tem pressionado empresas a priorizarem a produção local, sob a bandeira do “America First”, utilizando tarifas como ferramenta para incentivar a realocação de cadeias de suprimentos.
Apesar de Trump isentar chips, computadores e outros de algumas tarifas, a ameaça de barreiras comerciais mais amplas, contra a China, incentivou empresas a fortalecerem suas operações nos EUA.
“Estamos comprometidos com a inovação nos EUA há 114 anos, e este investimento garante que continuaremos na vanguarda da computação global”, declarou Arvind Krishna, presidente e CEO da IBM.
A aposta em computadores quânticos é um dos pilares do plano. A IBM, que opera a maior frota de sistemas quânticos do mundo, com acesso a quase 300 empresas da Fortune 500 e mais de 600 mil usuários por meio de sua Quantum Network, vê a tecnologia como uma revolução iminente.
Diferentemente dos computadores tradicionais, os quânticos têm potencial para resolver problemas complexos em áreas como inteligência artificial, farmacologia e segurança nacional, superando limitações dos sistemas atuais.
No entanto, o setor ainda enfrenta incertezas. Enquanto a Alphabet, dona do Google, prevê aplicações comerciais em cinco anos, Jensen Huang, CEO da Nvidia, estima que usos práticos podem levar até 20 anos.
O momento do anúncio não é casual. Na semana passada, a IBM sofreu um revés com o cancelamento de 15 contratos governamentais, parte de cortes orçamentários promovidos pela administração Trump.
Apesar disso, a IBM reportou resultados sólidos no primeiro trimestre de 2025, com receita de US$ 14,54 bilhões, superando expectativas.
Para o segundo trimestre, a IBM projeta receita entre US$ 16,4 bilhões e US$ 16,75 bilhões, acima das estimativas de analistas, que giravam em torno de US$ 16,33 bilhões. Esses números sugerem que a empresa está confiante em sua capacidade de financiar o investimento, mesmo com desafios no horizonte.
Analistas, no entanto, enxergam nuances na estratégia da IBM. Para alguns, como Gil Luria, da D.A. Davidson, os valores anunciados podem ser mais um gesto político do que um compromisso imediato.
“Embora a IBM continue investindo em tecnologias emergentes, como a quântica, a cifra de US$ 150 bilhões parece uma resposta às pressões do governo”, afirmou Luria.
Ele destaca que grandes anúncios de investimento têm sido usados por empresas de tecnologia para sinalizar alinhamento com as prioridades de Trump, evitando potenciais retaliações tarifárias.
Em 2022, por exemplo, a IBM já havia prometido US$ 20 bilhões em Nova York para semicondutores e computação quântica, um plano agora ampliado com o novo anúncio.
A iniciativa também levanta questões sobre o impacto econômico e tecnológico de longo prazo. A produção de mainframes e computadores quânticos em solo americano pode gerar empregos e fortalecer a competitividade dos EUA, mas a escala do investimento exige execução cuidadosa.
A IBM, que já foi pioneira em inovações como os sistemas que viabilizaram o programa Apollo, enfrenta concorrência acirrada de empresas como Microsoft, Amazon e Google, que também investem pesado em computação avançada. Além disso, a dependência de cadeias globais de suprimentos, especialmente para componentes de alta tecnologia, pode limitar a autonomia da manufatura nos EUA.
Enquanto a IBM avança com seu plano, o mercado observa com atenção. As ações da empresa subiram 12% em 2025, superando o índice S&P 500, que caiu quase 9% no mesmo período. O sucesso do investimento dependerá não apenas da capacidade da IBM de cumprir suas promessas, mas também de como o governo Trump moldará o ambiente econômico nos próximos anos.
Por ora, a empresa se posiciona como protagonista em um cenário onde tecnologia e política caminham lado a lado, com o futuro da computação quântica e da economia americana em jogo.
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