Para os ucranianos, o local neutro ofereceu um respiro das tensões diretas com Washington
Na terça-feira, 11 de março de 2025, a cidade portuária de Jeddah, na Arábia Saudita, tornou-se o epicentro de um esforço diplomático crucial. Representantes de Washington e Kyiv sentaram-se à mesa para discutir um cessar-fogo na guerra que há três anos opõe a Ucrânia à Rússia, além de explorar garantias de segurança que possam assegurar um futuro estável ao país do leste europeu.
A delegação ucraniana, liderada por figuras como Andriy Yermak, chefe do gabinete presidencial, saiu do encontro com uma avaliação otimista, descrevendo as conversas como “construtivas”, um termo que, embora vago, carrega o peso de uma possibilidade concreta em meio a anos de impasse.
O encontro ocorre em um momento delicado, após um confronto público entre o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o líder americano Donald Trump em 28 de fevereiro, as relações entre os dois aliados oscilaram, com Washington suspendendo temporariamente o compartilhamento de inteligência e a ajuda militar a Kyiv.
A reunião na Arábia Saudita, mediada por autoridades sauditas como o ministro das Relações Exteriores Faisal bin Farhan, marca uma tentativa de reaproximação. A delegação americana, encabeçada pelo Secretário de Estado Marco Rubio e pelo Conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz, trouxe à mesa uma proposta que parece ter ganhado tração: um cessar-fogo interino de 30 dias, que poderia ser estendido caso a Rússia, ausente das conversas, aceite os termos.
Para a Ucrânia, o diálogo foi mais do que um exercício retórico, Yermak, em declarações após mais de oito horas de negociações, enfatizou que Kyiv está pronta para a paz, mas sob condições que protejam seus interesses. A proposta ucraniana inclui uma pausa nos ataques aéreos e marítimos que têm devastado cidades e rotas comerciais no Mar Negro.
Essa ideia, segundo fontes próximas às discussões, reflete o desejo de aliviar o sofrimento imediato da população e abrir caminho para negociações mais amplas. Zelensky, que visitou Jeddah mas não participou diretamente das tratativas, reforçou essa posição ao chamar o plano de “positivo” e apelar para que Moscou dê o próximo passo.

Do lado americano, o tom foi de pragmatismo, Rubio, ao fim do dia, declarou que “a bola está agora com a Rússia”, sinalizando que o sucesso depende da reciprocidade do Kremlin. A Casa Branca, sob Trump, comprometeu-se a retomar imediatamente o apoio militar e de inteligência a Kyiv, um gesto que reverte a pausa imposta semanas atrás e sugere um cálculo estratégico: fortalecer a Ucrânia enquanto se pressiona por uma solução negociada.
Além disso, as delegações avançaram em um acordo paralelo para explorar os recursos minerais críticos da Ucrânia, uma iniciativa que Trump defende como forma de impulsionar a economia ucraniana e justificar o investimento americano a longo prazo.
O que torna essas negociações únicas é o contexto em que ocorrem, horas antes do início das conversas, a Ucrânia lançou um ataque massivo com mais de 340 drones contra alvos em Moscou e arredores, o maior do tipo desde 2022, segundo autoridades russas.
O Kremlin respondeu com silêncio oficial sobre Jeddah, mas o porta-voz Dmitry Peskov indicou que espera ser informado dos resultados, um sinal de que Moscou observa, mesmo que à distância. Para Kyiv, o ataque pode ter sido uma mensagem dupla: disposição para negociar, mas sem ceder na defesa de seu território.
A perspectiva saudita adiciona outra camada ao sediar o encontro, a Arábia Saudita reforça seu papel como mediadora improvável em conflitos globais, uma posição que já exerceu em 2023 ao facilitar trocas de prisioneiros entre Rússia e Ucrânia.
Para os ucranianos, o local neutro ofereceu um respiro das tensões diretas com Washington, enquanto para os EUA, foi uma chance de mostrar liderança sem envolver a Otan, cujos membros se reúnem separadamente em Paris para discutir apoio a Kyiv.
Ainda é cedo para prever o desfecho, mas a descrição de “construtivo” pela Ucrânia sugere progresso, mas o verdadeiro teste virá com a resposta russa. Se o cessar-fogo de 30 dias se concretizar, poderá ser o primeiro silêncio significativo em um conflito que já custou dezenas de milhares de vidas. Caso contrário, Jeddah será apenas mais um capítulo na longa busca por paz, um esforço que, por ora, equilibra esperança e incerteza em igual medida.